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Obsessão, um conto de Clarice sobre a emancipação de uma mulher

    Iniciei um projeto de leitura de um conto por dia esta semana com a coletânea Todos os Contos, de Clarice Lispector organizado pelo Benjamin Moser, e Contos de Imaginação e Mistério, de Edgar Allan Poe. Essas companhias que tenho tido antes de dormir, desde quando iniciei o projeto, tem me feito perder o sono. Talvez eu deva mudar o horário da leitura dos contos. Um deles, que me deixa insone, é " Obsessão ", o segundo conto de Clarice na seção Primeiras Histórias, escrito aproximadamente aos vinte anos de idade.    Trata-se da história de formação de Cristina, a narradora do conto, que se nos apresenta uma infância comum a infância de uma menina de sua época - "Até que um dia descobriram em mim uma mocinha, abaixaram meu vestido, fizeram-me usar novas peças de roupa e consideraram-me quase pronta" - Esta prontidão certamente é para o tradicional rumo das mulheres: logo, Cristina se casa com Jaime, um homem comum, que lhe traz chocolates durante as vis

Desfazer-se do corpo do romance e mostrar a voz que o antecede.

O romance clássico é construído por uma mesma estrutura, tendo por base fatos e personagens. Quando narrados em primeira pessoa, há a presença dos fatos e de uma estrutura que o organiza o enredo; há em alguns romances um narrador. Em As Ondas , o sétimo romance de Virgínia, a condução é toda feita por vozes. São seis: Rhoda, Susan, Neville, Jinny e Louis - e um espectro: Percival, um ponto de encontro, algo correlativo ao que o farol de Ao Farol era para os Ramsay. Em determinadas passagens, Percival é mesmo um ponto quase a ser alcançado, como o farol do romance anterior era um lugar a ser alcançado. É também o único que não é uma voz, mas um personagem. Voltando a estrutura do romance. É importante considerar que este seja conduzido não por personagens com corpos, mas por vozes de personagens, quase sem corpos. Essa imagem nos serve para pensar que Virginia abandonou o corpo da literatura, suas formas clássicas, seus parâmetros, para trazer em As Ondas o que é anterior à forma. Vir

Há algo de curioso no hype

Nos últimos meses eu e muitos dos que tentam estar por dentro do que tem sido publicado e tomado notoriedade no mercado editorial, ouvimos falar sobre Uma Vida Pequena, da Hanya Yanagihara, um livro que foi finalista dos prêmios Man Booker Prize, de 2015, em 6° lugar, e National Book Award, em 5º. Um livro de capaz bonita, que estampa a  fotografia de Peter Hujar, que faz parte de uma série sobre homens e orgasmos ; um livro também longo: na edição brasileira, da Editora Record, olhamos para um calhamaço de 783 páginas; também um livro que trata sobre a dor física e psicológica, a amizade, carreira profissional e família. Em seu aspecto família, o livro merece elogio ao nos mostrar uma perspectiva de família que é entendida também formada pelos amigos mais íntimos, com os quais temos relações mais estreitas. Teoricamente, um bom livro, se levarmos em conta o que ele pretende. Entretanto, enquanto experiência literária, um livro ruim, que não desenvolve das melhores formas o