Maurice, romance do britânico E. M Forster, foi escrito entre 1913 e 1914, à sombra da Era vitoriana, período marcado pelo contraste entre a modernização científica e um forte moralismo sexual devido ao fundamentalismo religioso. Por se tratar de um romance de formação sobre os anos de juventude de um personagem homossexual, Forster teve a esperteza de guardá-lo com recomendações de ser publicado somente após sua morte, em 1971.
O romance não trata de um sujeito com problemas com sua sexualidade, mas um sujeito em uma sociedade que tem problemas com a homossexualidade - e seu atravessamento no romance se dá a partir disso. A era vitoriana, período que marca os anos em que o romance se passa, embora marcada por uma modernização científica, foi também um período de forte moralismo sexual devido ao fundamentalismo religioso. Nenhum ambiente da esfera social tolerava “o vício indizível dos gregos”, como é chamada a homossexualidade no romance de Forster.
Maurice e Clive se apaixonam na universidade. Lá vivem um romance escondido, mas enfrentado em nome do sentimento que veem criar raízes. Clive, porém, vê-se impelido pelas demandas da civilização sobre o destino sexual dos homens, e após uma viagem a Grécia, vê-se atraído por uma mulher, com quem se casa. Maurice, que permanecia apaixonado por seu amante, que passa a ignorar seus sentimentos, busca um lugar no mundo para seu “vício indizível”.
E aí está algo interessante acerca desta expressão: ao chamá-la “vício indizível”, há incontornavelmente um nome ao qual era chamado. Há uma contradição em nomear a homossexualidade por “vício indizível”: nomeá-la “indizível” era negado pelo fato de ser mencionada, mesmo como algo que não deveria ser proferido. Tentavam fazer com que, não se falando a respeito, deixasse de existir. Com quem falar então sobre “o vício indizível”?
“Cogitou especialistas, mas não conhecia nenhum que se dedicasse à sua enfermidade, nem se o médico manteria a discrição após ter confiado nele. Podia pedir conselho em relação a todos os outros assuntos, mas, acerca deste, que o afetava diariamente, a civilização emudecia.”
Quando Maurice vai pedir ajuda ao médico da família, este não suporta sequer que Maurice desenvolva sua questão. Considera os sentimentos de Maurice por homens uma “bobagem”, que o melhor remédio é não dar atenção a isso, reprimindo-o depois que ele persiste falando acerca de sua atração pelos homens.
O caminho que Maurice traça em busca de uma cura para sua homossexualidade me parece antes uma resposta a demanda de amor de seu primeiro amante, Clive, que pede que ele deixe “aquela vida” para trás e assuma uma posição de “homem” na sociedade, do que um desejo autêntico de se sentir atraído pelas mulheres. E é só não respondendo mais a demanda de Clive, que é um mero reflexo da demanda da sociedade vitoriana, que Maurice se vê finalmente livre para ser o que se é, e dar um novo nome ao que sente, após a entrada de Alec, um dos empregados da família de Clive.
Maurice é um personagem que sonha com um mundo onde dois homens pudessem viver juntos. “Talvez entre aqueles que decidiam isolar-se da sociedade nos velhos tempos houvesse dois homens como ele - dois. Por vezes acalentava os sonhos. Dois homens podiam desafiar o mundo”.
Em seus diários, E. M Forster escreve sobre a inspiração para o romance: era amigo de Edward Carpenter, poeta e filósofo inglês e de seu companheiro, George Merrill, um operário que posteriormente se tornaria também poeta e filósofo. A respeito de Carpenter, Forster conta em seus diários: “tocou-me nas costas - suavemente e mesmo acima das nádegas. Julgo que tocava assim a maioria das pessoas. A sensação foi inédita e continuo a recordá-la, tal como recordo o lugar vazio de um dente que há muito se foi”. Aquele toque do amigo tocou Forster, que continua: “Causou-me uma forte sensação e impulsionou-me uma mola criativa”.
Forster ousa em dar ao romance um final feliz. Embora fosse crime a homossexualidade e a punição de Oscar Wilde fosse contada um exemplo disso, Maurice encontra um lugar para seu desejo. Deposita-o em Alec, que o corresponde.
O romance não trata de um sujeito com problemas com sua sexualidade, mas um sujeito em uma sociedade que tem problemas com a homossexualidade - e seu atravessamento no romance se dá a partir disso. A era vitoriana, período que marca os anos em que o romance se passa, embora marcada por uma modernização científica, foi também um período de forte moralismo sexual devido ao fundamentalismo religioso. Nenhum ambiente da esfera social tolerava “o vício indizível dos gregos”, como é chamada a homossexualidade no romance de Forster.
Maurice e Clive se apaixonam na universidade. Lá vivem um romance escondido, mas enfrentado em nome do sentimento que veem criar raízes. Clive, porém, vê-se impelido pelas demandas da civilização sobre o destino sexual dos homens, e após uma viagem a Grécia, vê-se atraído por uma mulher, com quem se casa. Maurice, que permanecia apaixonado por seu amante, que passa a ignorar seus sentimentos, busca um lugar no mundo para seu “vício indizível”.
E aí está algo interessante acerca desta expressão: ao chamá-la “vício indizível”, há incontornavelmente um nome ao qual era chamado. Há uma contradição em nomear a homossexualidade por “vício indizível”: nomeá-la “indizível” era negado pelo fato de ser mencionada, mesmo como algo que não deveria ser proferido. Tentavam fazer com que, não se falando a respeito, deixasse de existir. Com quem falar então sobre “o vício indizível”?
“Cogitou especialistas, mas não conhecia nenhum que se dedicasse à sua enfermidade, nem se o médico manteria a discrição após ter confiado nele. Podia pedir conselho em relação a todos os outros assuntos, mas, acerca deste, que o afetava diariamente, a civilização emudecia.”
Quando Maurice vai pedir ajuda ao médico da família, este não suporta sequer que Maurice desenvolva sua questão. Considera os sentimentos de Maurice por homens uma “bobagem”, que o melhor remédio é não dar atenção a isso, reprimindo-o depois que ele persiste falando acerca de sua atração pelos homens.
O caminho que Maurice traça em busca de uma cura para sua homossexualidade me parece antes uma resposta a demanda de amor de seu primeiro amante, Clive, que pede que ele deixe “aquela vida” para trás e assuma uma posição de “homem” na sociedade, do que um desejo autêntico de se sentir atraído pelas mulheres. E é só não respondendo mais a demanda de Clive, que é um mero reflexo da demanda da sociedade vitoriana, que Maurice se vê finalmente livre para ser o que se é, e dar um novo nome ao que sente, após a entrada de Alec, um dos empregados da família de Clive.
Maurice é um personagem que sonha com um mundo onde dois homens pudessem viver juntos. “Talvez entre aqueles que decidiam isolar-se da sociedade nos velhos tempos houvesse dois homens como ele - dois. Por vezes acalentava os sonhos. Dois homens podiam desafiar o mundo”.
Em seus diários, E. M Forster escreve sobre a inspiração para o romance: era amigo de Edward Carpenter, poeta e filósofo inglês e de seu companheiro, George Merrill, um operário que posteriormente se tornaria também poeta e filósofo. A respeito de Carpenter, Forster conta em seus diários: “tocou-me nas costas - suavemente e mesmo acima das nádegas. Julgo que tocava assim a maioria das pessoas. A sensação foi inédita e continuo a recordá-la, tal como recordo o lugar vazio de um dente que há muito se foi”. Aquele toque do amigo tocou Forster, que continua: “Causou-me uma forte sensação e impulsionou-me uma mola criativa”.
Forster ousa em dar ao romance um final feliz. Embora fosse crime a homossexualidade e a punição de Oscar Wilde fosse contada um exemplo disso, Maurice encontra um lugar para seu desejo. Deposita-o em Alec, que o corresponde.
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