Ao Farol, o quinto romance de Virginia Woolf, me ensina, entre tantas coisas, duas que aqui eu destaco: a primeira é que se atravessa não apenas o que está adiante, no futuro. Atravessa-se também, e várias vezes, o que está no passado. Fazendo uma torção no tempo: para seguir adiante, rumo ao futuro, a estrada a ser atravessada cruza o passado. A segunda é sobre os caminhos que um sujeito toma para tratar seu sofrimento. Virgínia, até a conclusão da escrita do romance, alucinava ouvindo a voz da mãe chamando-a. É após conclui-lo que escreve em seu diário que as vozes cessaram. Detenhamo-nos aqui, consideremos a grandeza deste feito, que é em si uma grande lição para um discurso científico que hoje considera os fenômenos psíquicos reduzidos a um tratamento de mediação puramente química. A escrita, e sobretudo a letra, serviu de matéria concreta para uma amarração do que inundava Virginia por meio das vozes da mãe morta. A amarração da qual a escrita de Ao Farol é efeito entretanto não é