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Mostrando postagens de janeiro, 2017

Obsessão, um conto de Clarice sobre a emancipação de uma mulher

    Iniciei um projeto de leitura de um conto por dia esta semana com a coletânea Todos os Contos, de Clarice Lispector organizado pelo Benjamin Moser, e Contos de Imaginação e Mistério, de Edgar Allan Poe. Essas companhias que tenho tido antes de dormir, desde quando iniciei o projeto, tem me feito perder o sono. Talvez eu deva mudar o horário da leitura dos contos. Um deles, que me deixa insone, é " Obsessão ", o segundo conto de Clarice na seção Primeiras Histórias, escrito aproximadamente aos vinte anos de idade.    Trata-se da história de formação de Cristina, a narradora do conto, que se nos apresenta uma infância comum a infância de uma menina de sua época - "Até que um dia descobriram em mim uma mocinha, abaixaram meu vestido, fizeram-me usar novas peças de roupa e consideraram-me quase pronta" - Esta prontidão certamente é para o tradicional rumo das mulheres: logo, Cristina se casa com Jaime, um homem comum, que lhe traz chocolates durante as vis

#DesafioLivrosBR Janeiro: Caetés, de Graciliano Ramos ou Como ler ficção?

   Atualmente estou começando o #DesafioLivroBR, proposto pelo site 1001 Livros Brasileiros Para Ler Antes de Morrer , e o item referente ao mês de Janeiro é "Livro de Estreia". Escolhi Caetés , de Graciliano Ramos. Outro dia talvez eu escreva algo sobre o livro. Agora quero apenas levantar alguns apontamentos que me vieram entre minha última leitura que finalizei ontem, que foi de O Lugar Sem Limites  (Cosac Naify, 2013) , de José Donoso, e de minha atual, que comecei hoje.     Eu, como muitos outros viciados (qual outro termo seria mais preciso?) em Literatura pensamos constantemente em livros e o que os circundam - seus autores, as editoras, as traduções, críticas, etc - e diante de um campo vastíssimo de tantos outros leitores donos de blogs e vlogs sobre leituras, percebi a sede atarantada pelo número de livros lidos. A-quantidade-de-livro-lidos é um pensamento que habita de vez em quando o imaginário de todo leitor compulsivo. Seja pela insuperável injustiça

Falando sobre Katherine Mansfield (e Virgínia Woolf)

Katherine Mansfield e Virgínia Woolf .    As minhas últimas leituras de 2016 foram todas de escritoras. Duas de minhas prediletas, aliás: Virgínia Woolf e Katherine Mansfield. Há mais coisas em comum as duas do que apenas o estilo: conheceram-se e foram amigas; trocaram correspondências e críticas sobre suas escritas. Em dado momento, Virgínia confessou: "Eu tinha inveja de sua escrita. A única coisa que já invejei"; por outro lado, Katherine confessava: "Eu me sinto orgulhosa da escrita de Virgínia". Aos fãs de Virgínia que ainda não conhecem a prosa de Katherine, imaginem aí o peso de ter uma qualidade invejável por Virgínia Woolf. Entretanto, esta inveja não era, para Woolf, imagino, uma forma de rivalidade: ambas tinham suficiente consciência sobre as questões feministas que brotavam em suas épocas  - e em suas escritas - para não caírem no jogo da rivalidade. Uma presava bastante a opinião a outra: Antonio Bivar cita, no prefácio de O quarto de Jacob